Qual foi a última vez que você se jogou em uma aventura?

Artigo publicado em: 2 de mar. de 2022
Qual foi a última vez que você se jogou em uma aventura?
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Por Catarina Weck Glashester

 

No final do ano passado, Marina Bidoia ficou sabendo de um barco que precisava detripulação para uma travessia do Uruguai até o Caribe, trajeto deveria ser feito no menor tempo possível. O comandante, um polonês chamado Leszek Stankiewicz, atualmente residindo no Canadá, iniciou sua viagem pela América Latina em 2019 e precisou parar sua viagem em Piriapólis por quase 1 ano.

Com as restrições da pandemia mundo afora, e a chance de ficar preso de novo, Leszek queria levar seu barco para casa o mais rápido possível, e isso incluía atravessar o Brasil com poucas paradas para descanso durante o Natal e o Ano Novo. Os únicos problemas eram que ele não conhecia ninguém no Brasil, estaria entrando como estrangeirono país e não possuía tripulação. Foi aí que Marina entrou na história.

 
 

Marina veleja com a alma e o coração, e faz lindos registros disso em seu Instagram,tendo muita experiência em barcos de classes oceânicas assim como naqueles sem classedefinida.

 

A pressa do polonês para chegar em casa fez com que a viagem ocorresse na época errada, então antes mesmo de iniciar o percurso, já se sabia que não seria uma tarefa fácil. Querendo atravessar o país do Sul para o Norte, as 2.835 milhas foram percorridas com ventos no sentido Norte-Sul, o que gerou condições que dificultaram um pouco a viagem. Assim, por exemplo, a perna de Abrolhos para Salvador, que deveria demorar 3 dias, demorou 6.

“Acontece que nesse trecho, o vento virou completamente na nossa cara, mal dava para manter um ângulo de 30° em relação ao vento, então a gente abria muito a cada bordo. Assim, numa perna faltavam 60 milhas, quando a gente cambava faltavam 80, na próxima cambada, 75 milhas. Olhávamos e estávamos andando a 7 knots, pensávamos “Que beleza”, mas olhando o rumo, não compensava. Vetorialmente, foi um dos momentos em que mais andamos, mas não era na direção que precisávamos. Com certeza as 300 milhas que precisávamos percorrer viraram 600, e da mesma maneira, 3 dias tornaram-se 6”, conta Marina.

Durante uma viagem dessas, percebemos que algumas coisas básicas do nosso dia a dia, tão naturais e automáticas quando se está em terra, são mais relevantes do que pensamos. “...isso a Tamara falou em uma das palestras dela e percebi como era verdade. Obanho é um marco temporal no nosso dia, e quando você não toma banho, parece que os dias se emendam e você já não sabe mais quanto tempo passou”. Em alto mar, a noção de tempo toma uma proporção diferente. O que mais importa é o horário do seu próximo turno, e já não se sabe mais, e nem faz diferença, se é dia ou hora útil em terra firme. “Quando chegamos a Salvador, liguei para o cara do porto a 1 da manhã do domingo e para mim era mais um momento normal daquela rotina que eu estava vivendo”.

 

“Quando chegamos ao Rio, não tínhamos tripulação para seguir”.

 

A embarcação de 42 pés chegou a velejar com combinações de 2, 3 e 4 pessoas a bordo, sendo a Marina e o comandante os únicos que permaneceram em todas as pernas até o barco deixar o Brasil. Além do perrengue inerente a uma viagem dessas, achar tripulação estava mais difícil pois a viagem foi feita bem em época das festas de final de ano.

“Quanto as tripulações, íamos montando conforme as pernas e a disponibilidade e boa vontade de amigos e conhecidos. Por causa de um problema no nosso motor, Leszek gastou um dinheiro que não estava previsto e ai não conseguiu pagar a prometida passagem para a tripulação que iria fazer a perna para o Rio, e eles cancelaram de última hora. Aí é aquela coisa, fomos indo atrás de quem estivesse a fim de encarar um perrengue desses. Achei duas mulheres maravilhosas que não tinham tanta experiência de vela, querendo embarcar para aprender, e acabaram encarando situações como um motor quebrado, velas rasgadas, todas as condições possíveis de vento... E é isso que acontece nessas viagens”

 

Registros feitos pelos diferentes velejadores que estiveram a bordo do Star Spengeld.

 

“Ficamos velejando a 0.7 knots por um dia inteiro. Sabe o que é isso? Quando andávamos muito era 1.2 knots, e estávamos com o motor quebrado. Estávamos a mais de 20 milhas da costa, então não tínhamos sinal. É aí que saem os textos, as reflexões... Foi aí que li 3 livros na maior velocidade da minha vida.”

Mesmo com o tempo ocioso e o tédio que acompanham travessias como essa, o maisvalioso em qualquer navegada é aquele momento completamente aleatório em que se olhapara o mar e o corpo é preenchido pela sensação maravilhosa de “não tem nenhum outro lugar no mundo que eu escolheria estar agora do que aqui, no meio do mar”.

Por um desencontro de datas e pelo agravamento da pandemia, com voos sendo cancelados durante dezembro e janeiro, Marina só pode participar da viagem até certo ponto, não seguindo com a tripulação até o Caribe. Na parte da viagem que ela esteve presente, foram 7 paradas até Recife, 8 velejadores que participaram da travessia e incontáveis histórias inesquecíveis.

 
 

Velejadores que participaram da viagem e suas respectivas pernas:

1 - Piriapolis - Ilhabela: 1025 milhas, 8 dias, 4 pessoas a bordo

Leszek Stankiewicz

Marina Bidoia Gerdullo

Vinícius Degrave

Maurício Vicente Cabral

 

2 - Ilhabela - Rio: 150 milhas, 2 dias, 3 pessoas a bordo

Leszek Stankiewicz

Marina Bidoia Gerdullo

Vinícius Degrave

 

3 - Rio - Ilha Grande - Rio: 120 milhas, 2 dias, 2 pessoas a bordo

Leszek Stankiewicz

Marina Bidoia Gerdullo

 

4 - Rio - Vitória: 350 milhas, 3 dias, 4 pessoas a bordo

Leszek Stankiewicz

Marina Bidoia Gerdullo

Fernanda kienitz

Julia rayes

 

5 - Vitória - Abrolhos: 270 milhas, 3 dias, 3 pessoas a bordo

Leszek Stankiewicz

Marina Bidoia Gerdullo

Fernanda kienitz

 

6 - Abrolhos - Salvador: 450 milhas, 6 dias, 3 pessoas a bordo

Leszek Stankiewicz

Marina Bidoia Gerdullo

Fernanda kienitz

 

7 - Salvador - Recife: 470 milhas, 5 dias, 4 pessoas a bordo

Leszek Stankiewicz

Marina Bidoia Gerdullo

Adam

Josef

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