O custo de cada fotografia

Artigo publicado em: 28 de out. de 2024 Tag do artigo: Compartilhando Histórias
O custo de cada fotografia
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E o presente moldado por lentes | Por Aline Ilha - 4 min de leitura

82.605. Esse é o número de mídias, entre fotos, vídeos e prints, que tenho no celular hoje. Momentos, ideias, viagens, sonhos, e memórias - boas e ruins. Quando relembro dos álbuns de fotos de família, de infância - limitados à quantidade de páginas e às revelações dos filmes - me pergunto se meus pais e avôs gostariam de ter registrado mais momentos, guardado mais detalhes. Será?

Considerando que a quantidade de fotografias tiradas a cada ano fosse linear (o que sabemos que não é verdade), aos 60 anos eu teria um banco de mídias que beira os 3 milhões. Teremos tempo de rever tudo isso, se hoje já não nos sobra alguns minutos por dia para apreciar um pôr do sol?

A verdade é que somos seres sociáveis, todos feitos de momentos, histórias e memórias, colecionadas pelo mundo e compartilhadas com os outros. Tirar uma fotografia ou gravar um vídeo nos faz ter acesso mais rápido, mais fácil e ilusoriamente mais vívido daquilo que presenciamos. Mas não tem o cheiro daquele tempero especial, não tem a sensação da areia quente passando entre os nossos dedos, não tem a vibração de uma música cantada por milhares de vozes em um show; Se limita a um recorte, uma janela da experiência que tivemos, e que ao olhar do outro, não revela muito.

É mágico olhar para trás e ver por onde andamos, mas talvez estivéssemos vivendo mais se as nossas principais lentes para o mundo fossem nossos olhos, e nossa própria mente contasse as histórias com os detalhes que nenhuma foto e vídeo é capaz de transmitir. Sabe quando você senta com alguém que, com empolgação, te conta uma experiência e você mergulha nela, tentando imaginar como foi? Tente lembrar qual foi a última vez que fez isso sem olhar para telas.

Qual é o custo, então, de uma fotografia?

“O preço de qualquer coisa é o quanto de vida você troca por isso”, já dizia o filósofo e jornalista Thoreau. Então, mesmo sendo uma amante de fotografia, entendo hoje que cada registro rouba - um pouquinho que seja - o momento presente para dar um “presente” ao eu do futuro.

São apenas segundos, mas considerando que o que temos de mais valioso é o nosso tempo e presença, arrisco dizer que pode custar muito. Assim como meus pais e avós possuíam seus álbuns limitados, talvez, ao final, eu também prefira que minhas melhores memórias estejam guardadas não nas milhões de fotos acumuladas, mas nas histórias que meus sentidos escolheram registrar e contar.

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