O devaneio nos andes

Artigo publicado em: 28 de mar. de 2024 Tag do artigo: Compartilhando Histórias
O devaneio nos andes
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Por Greta Paz | 3 min de leitura

O desconhecido sempre me fascinou. Eu gosto de pensar nas viagens que ainda não fiz, nos sabores que ainda não provei, nas zonas de desconforto que ainda não me coloquei. A viagem de uma semana para um trekking nos Andes é exatamente sobre isso - o querer o que eu nem sabia que desejava. 

Muito jovem coloquei na minha cabeça que não gostava de acampar. Por conta do meu trabalho, também vivo o tempo todo conectada ao meu celular. Jamais imaginei ficar sem banho por cinco dias. Isso sem falar sobre a falta de um banheiro. Mas eu queria experimentar a sensação de total presença. Queria pensar no agora e em nada mais. Você já se colocou nesse lugar? 

Cada tarefa cotidiana virou uma missão, exigindo pensar no agora. Para escovar os dentes, por exemplo, era preciso pegar água em alguma nascente de rio, colocar uma lanterna na cabeça, focar para não desperdiçar a água. Nada era feito no querido piloto automático.

Essa sensação de presença somada às horas infinitas de caminhada trouxeram inúmeros aprendizados e vejo que ainda estou assimilando tudo o que essa experiência foi para mim. Nessa viagem, aprendi a escutar o silêncio que fala. Conheci melhor a dor e a delícia da minha própria companhia, apreciei os momentos de solidão e reflexão, e pude ouvir a minha própria voz interna.

Ao fazer um trekking com várias adversidades, uma pergunta ia e voltava na minha cabeça: o que é essencial? No caminho, percebi que precisamos de bem menos do que imaginamos. A metáfora tinha total relação com a minha Allca, minha parceira de toda a viagem. Ela era essencial, mas muito do que tinha dentro dela, não.

Se engana quem acha que viajar não é sobre colocar uma mochila nas costas e sair andando. Viajar é exatamente sobre isso: dar o primeiro passo em direção ao desconhecido. Num mundo em que nos colocamos mil barreiras para "as coisas que não sabemos" é lindo ver a entrega para o desconhecido. E agora? Bora colocar uma Allca nas costas para buscar o desconhecido? Espero que esse post tenha inspirado você. Como diz Zélia Duncan em uma de suas composições, que eu particularmente adoro: "benditas coisas que não sei".

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